saía a correr da escola à beira tejo na hora das trabalhadoras da c.u.f. , saltava o ribeiro de sangue que corria ao ar livre vindo do matadouro. depois da primeira vez, já não olhava. a ideia de animais a sangrar agoniava-a, apertava-lhe o estômago que ficava como um punho fechado.
atravessava, a correr ainda, os carris dos comboios de mercadorias. barreiro.
tinha 12 anos e pernas compridas que galgavam muros.
porque é que corria?
por nada de terrível ou poético: saltar em branco uma paragem de autocarro sem perder a hora para poupar o dinheiro para uma pastilha elástica das que faziam balão.
- um dia ainda te estampas!
o condutor.
não lhe sorria. ela sorria pouco a pouca gente. atirava-lhe um olhar claro de "ande lá, arranque e cale-se!" e ia sentar-se num lugar vazio.
desta vez sentou-se ao lado um rapaz que via sempre. tinha olhar de "vitelinha mansa". era mais velho, para aí meia dúzia de anos . seguiram em silêncio sem se olhar.
saiu ela primeiro. prendeu-se-lhe o casaco comprido, azul escuro, que a mãe fizera. desceu.
no areal antes de casa meteu a mão no bolso. tinha lá um papel. tirou-o. era uma margem de jornal velho onde se lia:
"estou loucamente apaixonado por ti, madalena!"
leu mais 10 vezes até chegar a casa. depois rasgou-o.
foi a primeira declaração de amor que recebeu.
o rapaz não voltou mais à mesma hora.
- trabalha na fábrica do teu pai. soube e ficou com medo. - disse-lhe uma colega.
- cobarde!
não tentou encontrá-lo nem deixou de correr àquela hora.
a marca da pastilha já não lembra.
recorda bem o sabor excessivamente doce e a textura mole que se agarrava aos dentes, até poder fazer balões.
7 passos
Olá querida..
Saudades de vc..
Passo para te deixar um abraço!
Vivian Oliveira
www.meumundobyviv.blogger.com.br
Oi Vivian!
Tudo bem?
Saudade. Brif«gadão pela visita.
Bjs.
:)
História algo surpreendente:) bjs
e complectamente real, wind.
:)
Bj
real... e de uma escrita impecável, sempre. um livro de memórias com estes episódios todos seria de louvar...
Obrigada José Alexandre, mas não tenho qualidade suficiente para isso. São prazeres que me dou. Já não escrevia há muito tempo. Muito tempo mesmo...
:)
Que história tão bonita! Se aos 12 anos tivesse recebido um papel desses tinha-o o lido não 10 mas mil vezes e após essa leitura continuaria espantado e com certeza sem perceber o significado dessa frase! Iria de novo brincar com os legos, jogar ao berlinde ou ao apanha e por esta altura já nem me lembraria de o ter lido!
Beijinhos
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