dia de lavar no rio
era dia de festa. para a miudagem só. para as mulheres era ter de andar quilómetros a pé com uma trouxa de roupa na cabeça e um cesto na mão com a comida muitas vezes ainda por fazer.
foto em
depois era atar as saias e, dentro de água, esfregar a roupa sobre a pedra com sabão azul e branco até não haver nódoa que se visse (alentejanas são mulheres de asseio conhecido) e estendê-la na margem a secar. entretanto preparar a merenda para os catraios e voltar a carregar de regresso o mesmo peso. limpo agora.
para ela, para os primos era o rio. as apanhadas. as escondidas. a voz da tia sempre a controlar, se os perdia de vista.
- tia, olhe que enguia tão grande!
- é uma cobra de água. não é venenosa. mas não lhe toques, mesmo assim pode morder.
ficou a olhar a cobra. tão leve e silenciosa dentro de água. sem guelras nem barbatanas fazia manobras rápidas ondulantes. depois... desapareceu.
- que pena, já se foi!
- as cobras são muito rápidas e espertas. viu-te e fugiu.
claro, como miúda que era, depressa esqueceu a pequena lição.
espero a hora da cobra. a venenosa. agora atenta.
ela há-de aparecer e já não fugirá.
8 passos
Povo que lavas no rio...
Bonito retrato
:)
Gosto destas histórias:) beijos
reais.
:)
Bjs
Fizeste recordar passos da minha infância, vivida precisamente no Alentejo.
ajcm, enquanto revivia a minha.
:)
cada vez me surpreendes mais. eu até gostaria de ter algo de errado a apontar, para não parecer que vimos aqui só dizer bem, trocar elogios. mas a escrita é irrepreensível. continuo a insistir que estas memórias muito bem ficavam no papel, nas mãos de imensa gente. madalena, gostas de Manuel da Fonseca? ou Alves Redol? se já os leste entenderás porque pergunto.
José Alexandre, gosto muito, de ambos.
Ainda tive o privilégio de ser amiga do Redol.
Mas daí a ser escritora... deus me ajude!
:)
Obrigada na mesma, claro está.
Bj
Vim retribuir a tua visita e gostei tanto de tudo o que li!
Vou voltar mais vezes, por um atalho mais directo :)
Obrigada e um beijo
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