02 junho 2005

leite

talvez tenha gostado do leite materno, talvez. duvida.
leite foi coisa que sempre a enjoou. por isso o pai a obrigava a tomar uns comprimidos de cálcio às refeições.

- toma isso vá lá... magrinha como és ainda arranjas raquitismo. o leite faz muita falta ao crescimento.

é verdade que o pai já tinha crescido tudo mas também não suportava nem o cheiro de leite. coisas de adultos...

ela gostava, no entanto do branco-leite. gostava de o ver no copo. até de ver os outros beberem-no com gosto. dava-lhe prazer isso.

mas se tivesse sede, nem que houvesse um rio de leite a mataria. exagero? talvez. mas perto da verdade.



in

nem por isso nas férias deixava de, ao fim do dia, ajudar uma colega da escola a entregar de porta em porta o leite que a família vendia.

aliviava-lhe o peso do pote e assim tinham tempo para parar e brincar pelo caminho. mas havia um carreiro que percorriam com passo mais acelerado. da primeira vez ainda perguntou:

- estás com pressa? porquê? ainda não é de noite...

- não estou... tu já vais ver.

e viu. viu que chegavam à bomba de gasolina mais afastada da vila. viu a amiga poisar a vasilha de leite e ficar especada, olhos fixos num rapaz moreno, aviar-lhe uma medida de litro de leite e não parecer ter vontade de sair dali.

ela escondera-se atrás da bomba. não gostava daquilo. era óbvio. o óbvio e o ridículo eram primos de que se afastava assim que os via.

- viste? viste? ele a olhar para mim daquela maneira?

- vi-te a olhar para ele. é mais assim.

- tens é inveja.

- daquilo?

seguiram caladas no regresso.

ao outro dia, não se escondeu atrás de nada e fitou o rapaz, serenamente.

- tens uns olhos bonitos.

- já me disseram.

- és arredia.

- não sou é parva.

pegou no pote sozinha e deixou a amiga com o suposto namorado.

- afinal ele gosta é de ti...

quase chorava.

- não sejas parva. ele é só um rapaz. não gosta de ninguém.

e foram correndo até casa atirando o pote vazio de uma a outra. livres do leite e do sexo oposto.

por enquanto.

10 passos

Blogger wind andou...

:)))) Beijos

quinta jun. 02, 03:32:00 da tarde  
Blogger Madalena andou...

:)
Bjs.

quinta jun. 02, 10:06:00 da tarde  
Blogger José Alexandre Ramos andou...

aleksandro: disseste tudo. para eu não ter que dizer nada. «pronto».

;)

quinta jun. 02, 10:11:00 da tarde  
Blogger Madalena andou...

Lol

quinta jun. 02, 10:22:00 da tarde  
Blogger aDesenhar andou...

:-)

como comentário apenas coloco esta formula:

1.618


:-)

sexta jun. 03, 12:43:00 da manhã  
Blogger aDesenhar andou...

Leite

Leite ... está tudo lá
é leite

sexta jun. 03, 03:12:00 da manhã  
Blogger batista filho andou...

Honestamente, algo me diz que adoravas leite, só que esqueceste disso, assim como nos esquecemos de tantas outras coisas, quando vamos crescendo, e às vezes, quando crescidos, somos mais propensos a lembrar do que não gostamos...

sábado jun. 04, 04:06:00 da manhã  
Blogger Madalena andou...

sendo portavoz dela, garanto que ainda hoje só o bebe disfarçado com café ou chá.

houve uma vez, só uma em que o leite lhe soube bem. acabava de sair da vaca, era adocicado morno macio...

:)

sábado jun. 04, 07:43:00 da tarde  
Blogger batista filho andou...

Sabe uma gata? é capaz de se adaptar a ração, até tomar leite quando adulta, porém, continuará a pertencer a família dos felídeos, à ordem dos carnívoros e à classe dos mamíferos... Às vezes nos esquecemos, mas somos da mesma classe dos bichanos (por isso que meus filhos, ao verem uma garota bonita dizem: - "Que gata!". Ou, no caso da Luiza, a conversar com suas amigas: - "Viram como o... é um gato?!"). Voltando à gata do início desse comentário: em condições normais, quando adulta, sua alimentação seria quase 100% composta de carne, contudo, quando pequetita - 100% leite!!!!! Percebes?!

Quanto ao segundo tipo de leite que mencionas, na Ilha dos Mutuns, era tradição: de madrugadinha, no início das férias, acompanhar meu avô, que só chamavámos de "Vozinho", na sua ida ao curral, onde ele, juntamente com o vaqueiro, procedia a ordenha das vacas. Meus irmãos e primos levavam uma caneca na mão. Amarravam o bezerro a uma perna dianteira da vaca. Mãos hábeis e calosas se aferravam às tetas num movimento contínuo. A brancura do leite morno e branquinho se derramando num balde colocado estrategicamente (ou o copo de um guloso dos meninos se interpondo entre o balde e o jato alvíssimo!). A tudo isso o pobre do bezerrinho olhava com as pupilas a quase saltar dos olhos!! Quando o balde atingia uma determinada marca, desamarravam o bezerro, que só então se atirava ao úbere materno, dando cabeçadas num afã incrível, o leite a escapar-lhe pela boca! Era a parte que eu mais gostava de ver. Chamávamos a esse leite de “mungido”. Se eu gostava? Sequer o experimentei! Ficava com dó do bezerro.

Hoje? Leite?! Só disfarçado!!! E quando eu era pequetito? Bem, minha mãe dizia que, à exemplo de todos os outros filhos dela, mamava até dormindo... um sorriso de saciedade a me iluminar o rosto...!
:-)

sábado jun. 04, 08:52:00 da tarde  
Blogger Madalena andou...

:) bjs

domingo jun. 05, 01:04:00 da manhã  

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