30 maio 2005

the end

terça feira. pequeno almoço por obrigação, estremunhado. afinal a manhã não foi, ainda não é, a sua fase preferida do dia. e comer, só aprendeu a gostar disso lá para os trinta anos, o que não vem à história.

o pai arrancou com a moto. tudo era rotina. havia agora que apanhar o autocarro para o barreiro.

súbito. o som conhecido do motor da moto do pai, a regressar.

- é desta.

sentiu-se corar. não que o pai alguma vez a tivesse maltratado. nunca!

era ela. era assim. cheia de grandes medos por antecipação.

- podes despir a bata, lena.

trazia uma carta na mão

- tens um dia de detenção no forte. por teres tirado um menino debaixo de um carro eléctrico, claro.

e sorriu ao virar-se na pressa para o trabalho.


- que é um dia de detenção no forte?

perguntou mais tarde, na escola.

- é o que se faz aos soldados quando são castigados. não saem do quartel.

riu.

que teria sido da sua infância sem o pai?

pergunta hoje, com ternura grande.