o banco.
ora viva! sempre apareceu. tava aqui dizendo que se calhar já se tinha ido embora. que quem não é de cá aguenta mal quando a calma é como a de hoje. tome assento homem. se não se importa de esticar o braço tire uma talhada de melancia, que pela cor se vê que está docinha e refrescar, refresca. isto desde que não beba vinho que é pior que veneno, quando se mistura no estomago fica que nem cortiça. é o diabo!
sirva-se, sirva-se!
Still Life Sunflower and Watermelon
by Alberto Morrocco
o quê? o ti agostinho? atão não se esqueceu?
ora homem, isso são coisas de pouca monta. se ele por cá andasse nem havia de gostar que eu as contasse. atão aquela de quando foi preso!...
preso? não se impressione que aquela prisão até a mim me dá ganas de rir.
foi ao cair da noite. tavam os homens na taberna bebendo o seu copinho depois de um dia de labuta. ele também, encostado ao balcão, parece que foi hoje. não era homem de brigas. nem nas dos outros se metia. mas não engolia desaforo nem injustiça fosse ela com quem fosse.
atão não é que mesmo ao lado dele, um calmeirão encorpado, já tocadinho, dá em enxovalhar um barranquenho, que aquilo parecia nem beber caldo quente de tão mirrado que era. se eles tivessem o mesmo tamanho o meu compadre nem se virava. ele era assim. o diabo é que ao olhar por cima do ombro viu a pequenez do aspanholado e o galarote a provocá-lo.
- tás com vontade de briga?
disse o ti agostinho.
- e você com isso? se quer troque de lugar que eu também chego para si.
- tá bem. já aqui estou. atão diz lá.
puxa o vagabubndo, que outra coisa não era, de uma navalha de ponta e mola, à traição.
o meu compadre cegou! baixou o braço e pegou na perna do primeiro banco que lhe veio à mão e, sem mais água vai, deu-lhe com ele nos cornos, desculpe, mas é a nossa maneira de falar.
aquilo foi uma sangria desatada. parecia que se tinha acabado de matar um porco.
não. nã morreu. daí por umas horas com uma data de pontos na moina, estava na rua. aos bordos, mas na rua. o pior é que no hospital estava a guarda e o meu compadre teve voz de prisão.
se ficou preso? é isso quinda hoje me faz rir. mudámos as mesas e os bancos para o largo da prisão e ficámos a jogar cartas até as mulheres andarem doidas à nossa procura. depois o guarda também queria ir para casa e deu-lhe a chave para ele se fechar. sob palavra de honra de lá estar de manhãzinha quando o guarda voltasse.
e se ele tinha honra!
teve três dias de férias que é mais do que alguma vez eu hei-de ter.
vai um cigarrinho, amigo?
era assim, o ti agostinho, homem de uma peça só.
sirva-se, sirva-se!
Still Life Sunflower and Watermelon
by Alberto Morrocco
o quê? o ti agostinho? atão não se esqueceu?
ora homem, isso são coisas de pouca monta. se ele por cá andasse nem havia de gostar que eu as contasse. atão aquela de quando foi preso!...
preso? não se impressione que aquela prisão até a mim me dá ganas de rir.
foi ao cair da noite. tavam os homens na taberna bebendo o seu copinho depois de um dia de labuta. ele também, encostado ao balcão, parece que foi hoje. não era homem de brigas. nem nas dos outros se metia. mas não engolia desaforo nem injustiça fosse ela com quem fosse.
atão não é que mesmo ao lado dele, um calmeirão encorpado, já tocadinho, dá em enxovalhar um barranquenho, que aquilo parecia nem beber caldo quente de tão mirrado que era. se eles tivessem o mesmo tamanho o meu compadre nem se virava. ele era assim. o diabo é que ao olhar por cima do ombro viu a pequenez do aspanholado e o galarote a provocá-lo.
- tás com vontade de briga?
disse o ti agostinho.
- e você com isso? se quer troque de lugar que eu também chego para si.
- tá bem. já aqui estou. atão diz lá.
puxa o vagabubndo, que outra coisa não era, de uma navalha de ponta e mola, à traição.
o meu compadre cegou! baixou o braço e pegou na perna do primeiro banco que lhe veio à mão e, sem mais água vai, deu-lhe com ele nos cornos, desculpe, mas é a nossa maneira de falar.
aquilo foi uma sangria desatada. parecia que se tinha acabado de matar um porco.
não. nã morreu. daí por umas horas com uma data de pontos na moina, estava na rua. aos bordos, mas na rua. o pior é que no hospital estava a guarda e o meu compadre teve voz de prisão.
se ficou preso? é isso quinda hoje me faz rir. mudámos as mesas e os bancos para o largo da prisão e ficámos a jogar cartas até as mulheres andarem doidas à nossa procura. depois o guarda também queria ir para casa e deu-lhe a chave para ele se fechar. sob palavra de honra de lá estar de manhãzinha quando o guarda voltasse.
e se ele tinha honra!
teve três dias de férias que é mais do que alguma vez eu hei-de ter.
vai um cigarrinho, amigo?
era assim, o ti agostinho, homem de uma peça só.
12 passos
ai grande ti agostinho:))))beijos
Não sei o que me deliciou mais... se a mesa posta para o "meu" pequeno almoço... se o Ti Agostinho...
Abraço e uma boa quarta feira ;)
Olá Wind, Bjs.
Olá Menina, bom apetite. ;)
Bilhetes postais, com colorido alentejano, que sabem tão bem recordar a quem viveu identicos episódios. Lendo-te revejo, (porque o consegues transmitir claramente), com saudade, outros tempos arquivados no tempo. Leitura obrigatória do "Beja".
Que delicia....
:)
gosto deste registo à alentejana. a qualidade continua muito boa.
Aleluia!
O filho pródigo voltou.
Obrigada.
:)
Pintaste o quadro de tal forma, que a vida, a lhe sair pela tela quase implora. Os cabelos se me ouriçaram, que fiquei a cismar: se madrugada fosse, daquelas de vento gemente e nenhum lume pendurado no céu, provavelmente o tio Agostinho, que nem conheço, cruzaria as dimensões para vir me pregar um susto... ou simplesmente trocar uns dedos de prosa...! E se ora me calo, não é por medo não, que não sou disso... é que um ventinho besta deu de aumentar o volume e as estrelas no céu começaram a bocejar...
BF, o ti agostinho que por sinal tive o largo prazer de conhecer,a voltar seria para prosear, não fazer mal.
Abraço.
:)
E ainda, porque será que o seu texto me deu uma vontadinha forte de reler o Grande Sertão Veredas?
hein?
:)
Sinceramente?! Não sei, Madalena... mas, se permitido me fosse, brincar com coisa séria, diria, talvez, dependendo da maré (se próximo à costa estivesse) ou do vento, aqui do planalto central, donde ora me encontro - que em todo tempo e lugar existem coisas de difícil ou nenhuma explicação. E quando com tais coisas nos deparamos, ao invés de buscar respostas, são (contas)perguntas d’um rosário que desfiamos, tentando matar a sede num poço, que só existe no nosso lembrar.
Depois de um certo tempo, como que perdidos na ladainha que entoamos, já nem lembramos da resposta primeira, que um dia buscamos. Em meio a tantos “porquês”, até onde a vistavista e a perder de vista – as veredas -, tão bem descritas por Guimarães. Veredas que nada explicam. Veredas por onde pessoas passam num eterno vai e vem, deixando impressas - fadigas, esperanças, inquietações... Veredas que passam pelo planalto e planícies, como o sangue passa por dentro da gente e nem ligamos – até o momento em que uma pedra pontiaguda ou um espinho nos fazem sangrar...
Um abraço fraterno.
Ps. Quanto ao tio Agostinho, certamente teríamos muito o que conversar, trocar idéias de todos os lugares e tempos por onde passamos...
:)
Olha, não digo mais que: é isso aí!
:) Abraço.
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