no tempo em que a solidão não tinha nome
surgiu a caixa mágica que, no portugal do tempo, só lenta lentamente trouxe para mais perto o mundo: a televisão.
o pai não foi o primeiro a comprar. só no ano seguinte. sobravam então para a ver, os chamados cafés. pequenas tabernas onde deixara de se vender carvão e tinham agora duas mesas para as senhoras. os homens preferiam os copos e conversas ao balcão.
em frente à casa dela havia um. a dona era a mãe da melhor amiga desse tempo.
- mãe, pode dar-me o meu dinheiro hoje?
- porque é que não o guardas? em que é que o vais gastar? em pastilhas, já sei...
era o costume. ela sabia sempre tudo por antecipação, normalmente, errava. mas, nesse tempo, não se discutia com os pais. esperava-se.
- mãe...
- o que é?! - já irritado o tom.
- dá?...é para ir ao café.
- só lá há homens.
- vou ver o programa de poesia.
- se a poesia fosse uma árvore de dinheiro esta casa era rica.
- não vou sem consumir...
- toma lá e cala-te! que inferno!
dez tostões. o preço exacto de um bolo recheado com nata. não era gulosa. hoje ainda não é. era para o consumo. para poder sentar-se.
o pai não foi o primeiro a comprar. só no ano seguinte. sobravam então para a ver, os chamados cafés. pequenas tabernas onde deixara de se vender carvão e tinham agora duas mesas para as senhoras. os homens preferiam os copos e conversas ao balcão.
em frente à casa dela havia um. a dona era a mãe da melhor amiga desse tempo.
- mãe, pode dar-me o meu dinheiro hoje?
- porque é que não o guardas? em que é que o vais gastar? em pastilhas, já sei...
era o costume. ela sabia sempre tudo por antecipação, normalmente, errava. mas, nesse tempo, não se discutia com os pais. esperava-se.
- mãe...
- o que é?! - já irritado o tom.
- dá?...é para ir ao café.
- só lá há homens.
- vou ver o programa de poesia.
- se a poesia fosse uma árvore de dinheiro esta casa era rica.
- não vou sem consumir...
- toma lá e cala-te! que inferno!
dez tostões. o preço exacto de um bolo recheado com nata. não era gulosa. hoje ainda não é. era para o consumo. para poder sentar-se.
no café, o João Villaret ensinou-lhe o que da arte de dizer o pai não saberia. encantava-se. fixos os olhos naquele homem gordo de voz mansa e modulada de onde a arte jorrava.
o barulho. muito alto falam as pessoas em portugal!
- fazem favor de se calar!
os homens ouviram a voz que parecia vir de um escaler com apito de vapor e olharam.
era a lena.
- eu também sou cliente e quero ouvir o Villaret.
estranhamente foi-se fazendo quase total silêncio.
desde aí, naquele dia , áquela certa hora, os homens poisavam os copos e ouviam poesia.
silenciosamente.
11 passos
Hora de silenciar, ler, sentir...
(Psiu, pensamentos!)
shiu.... a cultura tb pode ser popular. ou digam lá se pode ou não falar-se o fado.
Tenho nos ouvidos (rigorosamente verdade) o João Villaret no S. Luis.
:)
Acredito piamente.
Era único.
Daí que à época foi difícil, aos declamadores não caírem na tentativa de imitação.
:)
Ele era único! beijos
ah miuda valente! ah poesia que fazes calar os homens!
:)
dantes fazia. será que ainda?
Também ainda o ouvi muita vez :-) Beijos
Julgava-te mais novinho, Bird. Não terá sido em disco?
;)
Bjinho.
oxalá que ainda. eu calo-me.
eu insisto em dizê-la. vício meu...
:)
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