a mentira.
havia muitos mendigos mais do que hoje haveria mas uns eram de verdade outros, nem tanto, diria.
- deixa-os lá pedir e segue o teu caminho
dissera-lhe a mãe um dia
- deixa-os lá pedir e segue o teu caminho
dissera-lhe a mãe um dia
- também não tens que lhes dar...
nessa verdade crescia.
mas de uma vez passeava pelo areal mão na mão com uma amiga de rua, dessas que quando podiam, andavam como ela andava, às escondiadas das mães, de pé descalço no chão.
deram com um ajuntamento e um homem que fazia de um cobertor o colchão. desmaiado parecia. não estaria.
mas de uma vez passeava pelo areal mão na mão com uma amiga de rua, dessas que quando podiam, andavam como ela andava, às escondiadas das mães, de pé descalço no chão.
deram com um ajuntamento e um homem que fazia de um cobertor o colchão. desmaiado parecia. não estaria.
todos queriam ajudá-lo. ele acenava que não.
assustou-se a rapariga. nada vira de parecido. esticava o homem o corpo ainda na areia estendido.
quando por fim se sentou explicou que tinha ataques e estava longe da terra sem dinheiro para o regresso ou para pão.
ela aí não resistiu. correu à casa da mãe a pedir-lhe a semanada.
- mas para que a queres tu agora?
- apeteceu-me comprar uma coisa que ali vi e me pareceu engraçada.
- depois não me peças mais. não sejas mal governada.
correu ao largo onde o homem, já refeito caminhava na direcção da saída da terra onde ela vivia.
- tome senhor... é só isto... dá para um pão com fiambre ou queijo se mais gostar....
o homem que não, não queria. acabou por aceitar e ela mais aliviada recomeçou a brincar.
assustou-se a rapariga. nada vira de parecido. esticava o homem o corpo ainda na areia estendido.
quando por fim se sentou explicou que tinha ataques e estava longe da terra sem dinheiro para o regresso ou para pão.
ela aí não resistiu. correu à casa da mãe a pedir-lhe a semanada.
- mas para que a queres tu agora?
- apeteceu-me comprar uma coisa que ali vi e me pareceu engraçada.
- depois não me peças mais. não sejas mal governada.
correu ao largo onde o homem, já refeito caminhava na direcção da saída da terra onde ela vivia.
- tome senhor... é só isto... dá para um pão com fiambre ou queijo se mais gostar....
o homem que não, não queria. acabou por aceitar e ela mais aliviada recomeçou a brincar.
in
mas a vida nem sempre é aquilo que nos parece, aprendeu para nunca mais esquecer, no dia que se seguiu.
estava ela junto à escola quando o mesmo homem viu com a mesma cantilena da família bem distante. pequena ou não, a menina avançou de encontro a ele com a força de um gigante.
- ainda se lembra de mim?
tanta raiva ela continha!
parece que sim, lembrava.
- bem te disse que não queria... - o homem balbuciava.
desiludida humilhada, foi-se a rapariga à escola.
parece que sim, lembrava.
- bem te disse que não queria... - o homem balbuciava.
desiludida humilhada, foi-se a rapariga à escola.
dera o dinheiro do café, o de ver o Villaret.
e por muito muito tempo, desacreditou da esmola.
e por muito muito tempo, desacreditou da esmola.
nada na vida é eterno. e nem a dor é infinda.
agora quando lhe pedem pensa para seu governo:
- num deserto de mentira, há tanta verdade ainda...
11 passos
Colheste uma imagem belíssima e forte... é, coisas belas medram no improvável, como a querer nos mostrar alguma coisa... como tu mesma exemplicas, nessa maravilha de narrativa!
Um abraço fraterno. (batista)
Realmente...mas no meio da falsidade...há alguma verdade! E tem de se saber perdoar...tem de se entender que nem todos são iguais....
Estou bem melhor…
Beijos gordos, BShell
Errata: "exemplicas"... eu, hem? ou troco o óculos, ou o digitador... ou simplesmente reviso o comentário... Acho que assim "exemplifico" melhor as minhas mancadas.
Já tinha percebido, mas és especial:) beijos
Vocês são lindos.
:)
eu acho que continua a haver,
ou seja,
que a mentira agora é pior.
mas há também a verdade, só que anda escondida.
é isso, muito mais discreta, a verdade.
:)
Por vezes a vida, não é o que parece...
Este é um quadro, infelizmente no actual dia a dia de muita gente!
Gostei imenso de ler-te.
Deixo um abraço e bom fim de semana :-)
Havia um velhote que costumava dizer: cada esmola que se dá é um ano de atraso na revolução( nunca cheguei a saber de que revolução falava).
Ainda o ano passado me aconteceu uma situação idêntica em Amsterdão, um senhor dizia que tinha fome fiz-lhe uma sandes e depois vi-o deitá-la para o chão!
Mas creio que mais vale ajudar sempre, não vá pagar o que precisa mesmo pelo impostor...
Beijinhos
a mentira é a forma mais realista de chegar a verdade.
charles de la folie
mentira e verdade
as duas fundem-se
no dia a dia já nem sei onde acaba uma e começa a outra ...
é assustadoramente real .
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