no meu bairro ainda se veste preto
quando morre alguém, sobretudo os mais velhos. os outros... bem os outros temem a morte na morte dos que vão. por isso afugentam pela cor a morte certa.
há ainda quem passe tão despercebido em vida, que não seja visto a não ser por morrer.
foi o caso do joão, chamemos-lhe isso.
o joão era um rapazinho bom quando menino, nisso há unanimidade das poucas vezes em que, agora, se fala dele.
entrou para a escola, era bonito, alegre, os mais velhos deram-lhe droga a experimentar. foram com ele roubar supermercados por aventura simples. desafio. nada que não tivessem podido comprar.
quando o joão se cansou, quis sair, não podia. sabia já demais: os locais, os contactos, a maneira de agir.
abandonado pela família , pelos antigos amigos, desistiu.
pegou a bicicleta, estava uma noite serena deste verão prolongado de 2005.
Wayne Wirs há ainda quem passe tão despercebido em vida, que não seja visto a não ser por morrer.
foi o caso do joão, chamemos-lhe isso.
o joão era um rapazinho bom quando menino, nisso há unanimidade das poucas vezes em que, agora, se fala dele.
entrou para a escola, era bonito, alegre, os mais velhos deram-lhe droga a experimentar. foram com ele roubar supermercados por aventura simples. desafio. nada que não tivessem podido comprar.
quando o joão se cansou, quis sair, não podia. sabia já demais: os locais, os contactos, a maneira de agir.
abandonado pela família , pelos antigos amigos, desistiu.
pegou a bicicleta, estava uma noite serena deste verão prolongado de 2005.
pedalou ponte a fora. ninguém viu. minto, viu-o um pombo que entretido com as sobras do lixo português, não avisou ninguém.
olhou o rio com atenção, talvez pela primeira vez e mergulhou.
a bicicleta alertou a polícia que passava. estava legal. chamaram a família que se vestiu de preto e o chorou.
liberto, o joão, deve estar a rir do luto agora, mas que importa?
no meu bairro morre-se depressa e em silêncio, como eu quero morrer.
9 passos
3 post sobre a morte, pareço obsecada? não estou.
Falta ainda um e este sobre a minha. Porque tem de ser escrito e para que ninguém possa negar um dia que o escrevi.
Mas além de amor e morte há outros temas?
:)
"no meu bairro morre-se depressa e em silêncio, como eu quero morrer."
Não acho que o joão tenha morrido depressa. Em vez de atravessar a juventude, foi morrendo por ela fora. O fim, o fim mesmo, depois de encostar a bicicleta, esse ninguém sabe se foi rápido ou silencioso. Nisso só mais céptico...
Curiosamente, e lendo o que escreves aqui nos comentários, lembrei-me do meu terceiro "post", ainda mal tinha começado o meu blogue. Coloquei lá o poema "Estação término", de José Régio, exactamente porque concordava com ele...e contigo. Acabava deste modo:
...
Chegou, por fim, a saber
Que, venha lá quem vier,
Seja quem for
Só um dos dois pode ser
Desde que não a fingir:
A Morte, o Amor
Bjs
Zé
Zé, permito-me um esclarecimento sobre o silêncio e a morte no meu bairro.
O João não morreu de droga, matou-se porque não o deixavam sair do meio e estar sozinho. Devo ter escrito mt mal :).(mal de escrever à pressa, do trabalho...
E ainda: não fez qq ameaça, não avisou ninguém, saiu de noite, a horas mortas, para a morte.
Deve ter feito spash ao bater na água, mas nem isso por opção. Esse o silêncio.
Bjs :)
M
hoje arrepiaste-me minha Irmã! muito bem escrito, muito bem ilustrado. beijo
sabes que são cinco (média - que horror as estatisticas!!!) que fazem splash só da Ponte 25 de abril por semana?
pois é também escolhem partir para onde possam suportar a dor...
Olá... Regista uma realidade terrível! Mas... para quantos não será a libertação possível? **
O Poema que publicaste em "post" anterior é BELO! :)**
Ainda bem que foi até ao meu montado e lá deixou marca. Agradeço as palavras, forma e conteúdo, mas deixe-me alegrar por o ter feito não pelo meu cantinho, mas pela excelência do seu.
Quanto à forma como nos despedimos deste mundo, o suicídio deve ser das mais corajosas, por ser contra natura. Considero pessoalmente que o estado que conduz uma pessoa ao suicídio é que é cobarde, porque depende de todos nós o descobrir dos sinais de alerta, o acto do suicídio em si é corajoso.
Apareça sempre lá pelo montado e entre que a casa também é sua.
Beijo
Eu percebi claramente que o joão se tenha suicidado, mas a morte para mim não começou ali, na ponte ou no rio. Começou atrás, atravessando-lhe a juventude, repito.
São conceitos, respeito os teus
Bjs
Zé
:)
Bjs
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