em tempo de futebol, se os não podes vencer...

leu algures, está á venda o barreirense, o estádio claro. não lamentou. lembrou.
foi a segunda vez que foi à bola. com o pai e de moto.
- vais levar a miúda para aquela barafunda? ainda a pisam todos, à saída...
a mãe odiava multidões e ela não gostava também. mas com o pai tudo era seguro ou lhe parecia.
- eu vou lá estar não vou?
o pai era dos poucos homens ( nunca por ali viu mais nenhum fazer o mesmo), que só tendo filhas raparigas as passeava, orgulhoso, aos domingos, pela mão quando o tempo não era de praia.
os demais juntavam-se nas tabernas ou à porta delas em grupos desocupados e ébrios.
- posso ir à bola, posso? quem joga pai?
- a c.u.f. contra o barreirense.
- pior, vai haver pancadaria. há sempre.
e havia.
era renhido aquilo. dois clubes de uma terra pequena. o barreiro dividia-se.
foram. estava cheio o estádio. o antigo. não o que está à venda.
não entendia nada de faltas. só vibrava com os golos. os homens e as mulheres uivavam palavrões de vernáculo bem fabril às mães dos árbitros e demais família.
- isto não se repete, lena.
- não, pai. eu não repito.
venceu o barreirense. assim que se apercebeu que estava decidido o jogo, o pai ergueu-a até aos ombros como uma pena e foi saindo.
cá fora a guarda republicana a cavalo começara a bater sabe-se lá porquê. batiam sempre. teve medo.
fingiu bem:
- olha pai, uma fracção imprópria.
- o quê filha?
- a guarda, a guarda a cavalo: a besta de cima é maior que a de baixo.
o pai riu. arrancaram de pantera negra, a scooter.
- aritmética sabes... foi a professora que te ensinou essa?
calaram. cúmplices.
sobre aquela guarda toda a gente pensava o que ela dissera.
-passamos pela praia, pai, passamos?
- está bem, mas não paramos. a tua mãe está preocupada.
era bonito. havia água clara e... moinhos.
4 passos
:) Que ternura:-) beijos
Na impossibilidade de morares num moinho levaste-o a morar contigo... com quantas coisas mais fizeste o mesmo?! # Fico a cismar: de tanto guardar coisas - algumas, de tão leves, quase nos fazendo voar -, outras, tão pesadas... quando em vez, precisamos colocá-las pra fora... nem que seja através das palavras, ou lágrimas, ou risos... que achas? ## Um abraço, amiga.
BF,Muitas coisas guardei, é como dizes. trouxe pedras do deserto onde não me deixaram penetrar por haver guerra, eu sei lá....
de lágrimas e risos se faz um vasto horizonte de memórias. as palavras tranportam-nos até aos outros.
é uma espécie de maneira de tornar sonhos em realidade. um abraço amigo
e esse blog?
:)
[emoções]
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