16 maio 2005

em tempo de futebol, se os não podes vencer...


leu algures, está á venda o barreirense, o estádio claro. não lamentou. lembrou.

foi a segunda vez que foi à bola. com o pai e de moto.

- vais levar a miúda para aquela barafunda? ainda a pisam todos, à saída...

a mãe odiava multidões e ela não gostava também. mas com o pai tudo era seguro ou lhe parecia.

- eu vou lá estar não vou?

o pai era dos poucos homens ( nunca por ali viu mais nenhum fazer o mesmo), que só tendo filhas raparigas as passeava, orgulhoso, aos domingos, pela mão quando o tempo não era de praia.

os demais juntavam-se nas tabernas ou à porta delas em grupos desocupados e ébrios.

- posso ir à bola, posso? quem joga pai?

- a c.u.f. contra o barreirense.

- pior, vai haver pancadaria. há sempre.

e havia.

era renhido aquilo. dois clubes de uma terra pequena. o barreiro dividia-se.

foram. estava cheio o estádio. o antigo. não o que está à venda.

não entendia nada de faltas. só vibrava com os golos. os homens e as mulheres uivavam palavrões de vernáculo bem fabril às mães dos árbitros e demais família.

- isto não se repete, lena.

- não, pai. eu não repito.

venceu o barreirense. assim que se apercebeu que estava decidido o jogo, o pai ergueu-a até aos ombros como uma pena e foi saindo.

cá fora a guarda republicana a cavalo começara a bater sabe-se lá porquê. batiam sempre. teve medo.

fingiu bem:

- olha pai, uma fracção imprópria.

- o quê filha?

- a guarda, a guarda a cavalo: a besta de cima é maior que a de baixo.

o pai riu. arrancaram de pantera negra, a scooter.

- aritmética sabes... foi a professora que te ensinou essa?

calaram. cúmplices.

sobre aquela guarda toda a gente pensava o que ela dissera.

-passamos pela praia, pai, passamos?

- está bem, mas não paramos. a tua mãe está preocupada.

era bonito. havia água clara e... moinhos.


obrigada a

4 passos

Blogger wind andou...

:) Que ternura:-) beijos

segunda mai. 16, 02:53:00 da tarde  
Blogger batista filho andou...

Na impossibilidade de morares num moinho levaste-o a morar contigo... com quantas coisas mais fizeste o mesmo?! # Fico a cismar: de tanto guardar coisas - algumas, de tão leves, quase nos fazendo voar -, outras, tão pesadas... quando em vez, precisamos colocá-las pra fora... nem que seja através das palavras, ou lágrimas, ou risos... que achas? ## Um abraço, amiga.

segunda mai. 16, 03:17:00 da tarde  
Blogger Madalena andou...

BF,Muitas coisas guardei, é como dizes. trouxe pedras do deserto onde não me deixaram penetrar por haver guerra, eu sei lá....

de lágrimas e risos se faz um vasto horizonte de memórias. as palavras tranportam-nos até aos outros.

é uma espécie de maneira de tornar sonhos em realidade. um abraço amigo

e esse blog?

:)

segunda mai. 16, 03:23:00 da tarde  
Blogger José Alexandre Ramos andou...

[emoções]

segunda mai. 16, 09:56:00 da tarde  

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