não lhe contavam nada nesse tempo.
Moura - Thanks to
moura era ainda uma vila. caiada. branca toda. às vezes com uma barra de azul a debroar as casas.
devia ser pela páscoa. devia. era por essa altura que visitavam mais a família e iam todos. havia festas e a segunda feira festiva e pagã, do almoço à beira do ardila.
tinha uma irmã. não parece por pouco falar dela, mas tinha. era pouco mais velha e não brincava. talvez por isso a esqueça quando narro.
dessa vez a irmã, ela e uma prima mais velha estavam sózinhas em casa. deviam ter ido às compras as mulheres, a preparar a festa com borrego, para comer entre mergulhos gargalhadas e sol.
- que é que vocês estão a ver?
as outras duas apertaram as cabeças. murmuraram mais baixo ainda.
- nada. não é para a tua idade.
palavra mágica essa, a da idade. esgueirou-se entre as duas. a magreza para alguma coisa havia de servir. antes o não tivesse feito. antes não...
- que é isso?
- está calada! não contes a ninguém ou ainda levas!
era um frasco. não vazio. tinha alcool, devia ser... e lá dentro uma forma pequenina.
- isso é gente! o que é isso? diz lá!
a ansiedade, tanta ansiedade.
- está morto!
- não, está vivo - ironizaram.
depois foram esconder o segredo da tia onde ele antes estivera.
devia ser páscoa, mas não se lembra de mais nada senão de sair para a rua e de correr ladeira abaixo a soluçar.
ninguém lhe viu as lágrimas que corriam tanto como ela.
hoje sabe das hipocrisias de outras tias.
mas não. não vai, não consegue, votar.
não condena ou absolve, simplesmente não mata. tentará até à sua própria morte, não matar.
7 passos
Eu sei que é controverso, mas promessa é dívida. eu ontem tinha prometido explicar. não foi só este primeiro contacto com o aborto que me marcou, foi o primeiro. eu teria 10 anos, pouco mais. Os outros... bem os outros não são para este espaço. nem este eu sei bem se será.
desculpem.
não. eu sou assim. não posso desculpar-me de ser.
obrigada a quem me lê.
:)
E explicaste muito bem. Beijos
És corajosa ao abordar tal tema. Mais ainda ao expores a tua opinião. Que Deus continue a intuir-te.
Não é preciso coragem para dizer a verdade do que se sente.
:)
abraço.
Bjs, Wind.
:)
Moura? Então andas pela minha terra?
Que história bizarra! Que contacto terrivel para uma criança( para um adulto imagino que também não seja nada fácil). E que macabro guardar a criatura num frasco!
Beijinhos
André, és de moura?
Coisa boa!
Terra que eu amo mesmo e de onde vem parte destes farrapoos de memória. O meu pai e avós nasceram lá.
Eu, não mas tenho 6 costados alentejanos. Pelo menos...
:) Bjs.
É! Sou de Moura. E agora aqui vivo(no campo, afastado da povoação!) há uns 8 meses, depois de quase 10 anos a viver fora daqui! Mas aqui é que tenho uma boa qualidade de vida :)
Beijos
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