nem sempre foi infância e o corpo cresceu
a praia: troia. a outra, a sem torres. a que tinha marisco onde se tropeçava.
calor. o corpo febril. a alma em desassossego.
- júlia, vamos?
- hoje não posso. a minha mãe vai ao médico. fico com o meu pai.
a amiga tinha o pai acamado há anos.
- vai tu. está tanta gente... que mal faz?
- vim só para vê-lo...
- eu sei. vai tu! ele está lá à espera. iria ficar triste se tu não aparecesses.
foi.
atravessou o sado nos barcos antigos. chegou ao cais antigo. olhou em volta.
- um mar de gente. isto hoje está demais.
- fala sozinha?
- não. contra o destino que não fez desta praia uma praia deserta.
- nós fazemos. nós conseguimos tudo. você sabe.
- já nem sei o que sei.
- o sócrates acabou onde você começa. nada mau.
calor. tanto calor! porque aumentara tanto a temperatura? passara a pior hora...
- que bom ter vindo! venha sentar-se ali. tenho a toalha à sombra.
- não foi fácil. ninguém queria ou deixou e a júlia não podia... é uma mentira o que estou a fazer.
- é?
- não! é a única verdade.
- sim.
olharam-se. bastava. sempre bastou quando mais não podiam.
- olhe, golfinhos!
- estão cá todos os anos. vê aquele homem que se atirou à água?
- vai ter com eles?
-sim.
- um golfinho ficou para trás. brinca com ele.
- dizem que o reconhece...
o calor descera com a frescura dos golfinhos mas por pouco tempo. como as ventoínhas, o fresco só dura enquanto passam, a girar.
olhavam-se de novo.
- quer ler a sina, menina?
uma cigana velha, muito velha. de preto. parecia um corvo gigante a ensombrar o dia.
- não!
quase gritou. mas não é fácil fazer ouvir um não a uma cigana. ainda por cima velha.
pegou-lhe a mão direita.
- não, já disse!
- esta é de graça. se quiser saber tudo é que tem de pagar.
o homem sorria. não levou a sério. estava calmo, feliz.
- vai casar com um homem mais velho... vejo muitas complicações na sua vida... 3 filhos vai ter!
quer saber mais?
-não, já disse!
- deixe a menina em paz.
o homem estendeu-lhe uma moeda.
- o que eu disse vai acontecer.
tremia. porquê? gostava de ciganos.
- pronto, ela já foi.
- é, viu-nos juntos e fez cálculos errados: casou-nos.
calaram-se. tristes.
- tenho de ir. já não moro aqui...
- eu sei. eu levo-a ao barco para lisboa.
que feliz se sentiu!
já no barco viu-o a acenar e a gritar como um louco:
- AFRODITE!
aconteceu, num dia de muito calor...
5 passos
E quando acontecem estas "estórias" há magia:) bjs
:)
nessa houve. foi a "estória" mais mágica de toda a vida dela.
:)
Beijos
fiquei com calor depois de ler :-)
e a esta hora a temperatura ainda está alta ...
esta tarde levei com uns simpáticos 38º
hummm! algo vai mal com o clima.
se houve "estória" melhor ainda :-)
:)
estrada poética, gosto!
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